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domingo, 11 de dezembro de 2011

Trajetória de uma Luta 04 - A História do meu Pênfigo Vulgar


Amigos leitores, na edição passada eu falei sobre a consulta com o Dr. Paulo Cid e de sua duvida em diagnosticar a minha patologia. Nessa edição daremos continuidade a essa Trajetória de uma Luta, onde fui submetido a uma juta medica para avaliar o grau de gravidade da doença e as minhas chances de sobrevivência.

Saímos do consultório do Dr. Paulo Cid ás 16:00hs, ele tinha marcado uma junta médica para o dia seguinte no Hospital Dona Libânia, disse que queria aproveitar a presença de alguns médicos que estavam participando de um congresso em Fortaleza, para melhor avaliar o caso. Deixamos a clinica e pegamos um táxi para a casa de minha amiga Carmem, que ficava no bairro Mondubim, lá ficaríamos até a hora em que fossemos para o hospital. Nessa noite eu não consegui tomar banho, porque o contato com água na minha pele doía muito, e a essas alturas meu corpo já estava todo coberto por feridas. Quando foi então na hora de dormir, eu tentei deitar, mais as feridas estavam muito  acesas,  e soltavam grande quantidade de secressão,  e isto me impedia de  conseguir pegar no sono, primeiro porque eu sentia muita dor, e segundo porque no dia seguinte o meu destino estaria sendo definido, e a partir dali eu estaria nas mãos de Deus.

1º de Fevereiro de 2002, sexta-feira: Esse era o dia da junta médica no Hospital Dona Libânia, a consulta estava marcada para às 10:00hs, mas às 08:00hs eu já estava lá, cheguei cedo porque na vida existem coisas da qual não podemos fugir, e já que eu tinha que enfrentar tudo aquilo, então começasse logo. O Hospital Dona Libânia fica no centro de Fortaleza e é especializado em doenças de pele, é um Centro Dermatológico onde muitas pessoas fazem tratamento de pele, inclusive com cirurgias. O meu caso era diferente, até porque todos que passavam, paravam e ficavam me olhando como se eu fosse coisa do outro mundo, isso demonstrava que todos ao me verem tinham uma boa melhora com seu estado de saúde. Enquanto aguardava os médicos se reunirem, eu ficava em um local reservado observando o movimento do hospital. Percebia que os pacientes ali eram pessoas simples, até porque o hospital é público e mantido pelo Estado.

Quando fui então às 10:00hs, o Dr. Paulo Cid me chamou e mandou que eu entrasse em uma sala e aguardasse. Eu entrei sozinho, enquanto minha amiga Carmem e minha mãe esperavam lá fora. A sala era grande e estava cheia de médicos, acho que tinha mais de 20, alguns eram de fora, mas a maioria era mesmo do hospital. Sentei numa cadeira, sem camisa, de short, e todos começaram a me rodear. O Dr. Paulo Cid começou a explicar para os outros médicos o teor da minha consulta anterior e a finalidade de eu estar ali. Aquilo tudo para mim era estranho, eu me sentia como se estivesse indo para a forca, sem entender direito o que acontecia. Imaginei como o destino era cruel e como minha vida tinha mudado nestes últimos meses. Pensei nos planos que eu havia traçado e nos sonhos que por enquanto não poderiam ser realizados, pensei na minha vida 08 meses atrás, quando ainda tinha saúde e levava uma vida normal como todo mundo. Agora estava eu ali, sentado em uma cadeira com o corpo todo cheio de feridas, com a boca aberta, com os braços levantados e com mais de 20 médicos me analisando. Eles me observavam e conversavam entre si, anotavam alguma coisa, ou então me faziam algumas perguntas. Enquanto isso acontecia, algumas feridas surgiam no meu peito em forma de bolhas com pús, e nessa hora chegava um médico, estourava e fazia anotações em sua prancheta. A dor que eu sentia no corpo era insuportável, doía tudo, da cabeça até a cintura. Eu sentia o meu corpo cada vez mais se desmanchando e tinha a sensação que não sairia dali com um bom diagnóstico clínico. Nessa hora, fechei os olhos para suportar as dores e as sensações ruins que ela causava, pensei no sofrimento que iria ter pela frente e por todo tratamento que eu ia ter que passar. Pensei nos meus filhos que estavam em Cascavel e na forma como eles iam encarar essa situação, pensei nos meus amigos e nos meus familiares que haviam ficado em Sobral. Nesse momento eu lembrei de algo engraçado que aconteceu no passado e comecei a rir. Um dos médicos ao me ver sorrindo, indagou: - Engraçado, esse rapaz nessa situação e ainda sorri? Eu olhei para ele e falei: - Doutor, eu estou rindo porque não tenho outra opção, tudo o que me restou foi a minha alegria e minha fé, e isso ninguém vai tirar de mim. Ele chamou os outros médicos e falou: - Esse rapaz é muito otimista e é consciente do que tem que enfrentar, depois olhou para mim e disse: - Olha rapaz, você tem uma doença muito rara que vai lhe maltratar bastante, vai fazer você sofrer muito e pode até lhe matar, a sua sobrevivência vai depender da sua fé, da paciência e da força de vontade que você tiver de viver. Falou também que eu ia sofrer muito durante os dois primeiros anos, pois seriam o início da fase aguda da doença, mas que se eu tivesse paciência e suportasse esses dois primeiros anos, eu teria uma boa chance de sobreviver. Falei para ele que, paciência eu tinha muita, que dois anos passam rápidos, e que não seria essa doença que ia interromper a minha trajetória aqui na terra. Nessa hora, Dr. Paulo Cid chegou e mandou que eu aguardasse lá fora enquanto eles chegavam a uma conclusão sobre a junta médica ali realizada.


Amigos, essa junta médica foi para mim uma prova de fé e de obstinação pela vida, confesso que durante aquela uma hora que passei naquela sala, eu vi a minha vida passar toda a minha frente como se fosse um filme. Confesso que não cheguei a sentir medo, e que me senti como um objeto em exposição, cheguei até em meio a tanta dor, me sentir importante e protagonista de um ato de heroísmo. Claro que o sentimento de heroísmo era só para manter o equilíbrio e a minha auto-estima elevada, pois herói para mim, não é quem salva a própria vida, e sim a vida do próximo. Salvar a minha vida, era minha obrigação.

Na próxima edição, falarei sobre o resultado da junta médica, de como foi o início do tratamento e da fase aguda.

“É importante que nunca desistamos dos nossos sonhos, mesmo que tivermos de adiá-los por alguns anos”.

Para refletir: “Nunca reclame do que você perdeu! Agradeça sempre o que ganhou”.

Amigos contar uma história é fácil, difícil é contar esta historia sentindo a dor minuto a minuto, segundo a segundo, difícil é contar uma história com a pele toda em carne em viva, sentindo dores onde a morte se faz sempre como uma solução, por isto sinto muitos transtornos contando esta historia novamente, mesmo ela tendo sido escrita há cinco anos para o Jornal O Circular, mas é muito gostoso eu ter a chance de escrever novamente estes momentos vividos nestes dez(10) anos de luta, pois mesmo com o coração em pedaços eu agradeço muito a Deus por ter me dado mais esta oportunidade, pois muitos não tiveram esta chance. Obrigado e abraços

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