Amigo leitor, estou contando em algumas edições a Trajetória de uma luta contra uma mal chamado Pênfigo Vulgar. Na edição passada contei um pouco sobre como tudo começou e das dificuldades que tive em descobrir a doença. Essa aliás é a pior de uma enfermidade, ou seja, enquanto não se descobre, fica perambulando por consultórios médicos, enfrentando filas intermináveis e sofrendo com a indiferença de alguns deles, que muitas vezes podem até não conhecer a patologia, mas podem indicar ou mostrar uma direção para que agente não fique perdido no meio de tantas dúvidas e incertezas. Digo isso porque levei 08 meses para chegar no Hospital das Clinicas em Fortaleza, e lá encontrar carinho, esperança e um tratamento adequado para minha patologia.
Saí de lá com uma receita e com uma tremenda dúvida, se não era Pênfigo o que seria? E se fosse Pênfigo, o que seria isso? Que doença tão desconhecida e terrível seria essa? Só sei que de outubro de 2001 a janeiro de 2002 só tive incertezas, e todos os dias sentia que tudo aumentava um pouco. Mas o pior aconteceu em janeiro, pois ao acordar percebi que meu rosto estava pelando. e que onde a pele teve contato com o travesseiro, ela havia sido tirada do meu rosto. Senti então uma tristeza profunda e comecei a sentir medo, não entendia o que acontecia, e também já não tinha coragem de ver a imagem do meu rosto no espelho, até porque o rosto é o cartão postal de todo semelhante, e o meu estava começando a ficar desfigurado. Eu durante a minha vida nunca tive vaidades e sabia que eu tinha que aceitar o que acontecia, pois naquele momento eu não podia pensar na estética e sim em uma maneira de amenizar a forte dor que sentia. Eu sabia que todo mundo no Alto da Expectativa estavam preocupados comigo, e que todos queriam me ajudar, mas era difícil, porque ninguém entendia o que acontecia, e a maneira mais fácil de ajudar era rezando para que tudo tivesse um fim. Quando foi no final de janeiro eu soube que a Dra. Cristina tinha voltado de sua licença maternidade e isso reascendeu minhas esperanças. Pois dela eu havia tido boas referencias, mas ela só tinha vaga na agenda para depois de 02 meses, e eu não podia esperar tanto, até porque tudo piorava a cada dia e meu estado emocional aos poucos ia se desmoronando. Conversei insistentemente com sua secretária e ela disse que me atenderia no dia seguinte, pois tinha curiosidade em me ver. Fui então no outro dia em sua Clínica, e ela ao me ver e ler o resultado da biopsia, constatou que realmente era Pênfigo, mas que não podia fazer nada, a não se indicar um médico em Fortaleza, porque a doença era grave e teria que ser tratada em um hospital, pois a medicação que eu teria que tomar era muito forte e precisaria estar internado sob observação para que os efeitos colaterais fossem controlados. Falou pra mim que essa doença era rara, e que maltratava muito, e que eu teria que ser forte para superá-la. Não me cobrou a consulta, me desejou boa sorte e disse que estaria à disposição para me tirar as dúvidas que eu precisasse. Deixei seu consultório triste por ela não poder me ajudar na parte patológica , mas fiquei feliz por ela ter me tratado bem e pelo menos ter confirmado o resultado da biopsia e ter me mostrado uma direção a seguir, ou seja, Fortaleza.
Fortaleza eu conhecia bem, pois lá havia morado dez anos e foi lá onde meus dois filhos Tony e Danielly nasceram. Minha separação aconteceu por uma questão geográfica, eu queria voltar para Sobral onde nasci, e Nélia minha esposa na época, queria ir para Cascavel onde morava sua mãe. Aconteceu que mesmo separados ficamos amigos, e freqüentemente eu ia a Cascavel ver as crianças, e foi lá em uma dessas viagens que percebi o arranhão na minha face direita e uma pequena ferida na barriga como se fosse uma queimadura de cigarro. Eu em Sobral morava com minha mãe e não tinha renda fixa, tinha prestado meu serviço como um dos líderes do Alto da Expectativa a um político e vivia de suas migalhas, ou seja, promessas de emprego e alguns trocados. Sabia que para ir para Fortaleza ia precisar de muita grana, e no momento eu não dispunha de nenhuma, pois lá as consultas teriam que ser particulares e tudo ia ter um custo muito alto. Eu não tinha cabeça para pensar nisso e vivia como se tivesse vegetando, sentindo muita dor e relutava contra uma vontade muito forte de ficar coçando as lesões. Passei o dia deitado todo enrolado, para que as moscas e mosquitos não pousassem em minha cabeça, pois o mau cheiro de secreção era muito forte e isso atraia os insetos.
Enquanto o ônibus cortava a estrada, eu lembrava da minha querida cidade de Sobral, e dos amigos e familiares que lá deixava, pensava na tristeza das pessoas que me amavam e na preocupação daqueles que torciam por mim, pensei nos 4 anos que morei no Rio de Janeiro e no orgulho em dizer que tinha nascido em Sobral, e agora Sobral ficava para trás. Senti um calafrio quando pensei na hipótese de não voltar à Sobral com vida, e chorei com saudades do meu Alto da Expectativa, bairro onde nasci e onde havia ficado a maioria de meus amigos. Mas não era só sofrimento, dor, tristeza e incerteza que eu levava na bagagem, levava também fé, esperança, coragem para lutar e uma grande vontade de viver, levava também alegria por estar tendo a oportunidade de testar os meus limites e de mostrar a minha fé em Deus.
Na próxima edição irei contar tudo o que aconteceu em Fortaleza, a consulta com o Dr. Paulo Cid, a junta médica no Hospital Dona Libânia e o início do tratamento em Cascavel junto a meus filhos. Contarei também como superei as investidas do suicídio e como encontrei forças para continuar lutando.
Nessa edição eu contei sobre as dificuldades que encontramos em marcar exames e na demora em saber o resultado, falei da solidariedade do povo do Alto da Expectativa e de meu amor por Sobral. Escrevo tudo isso para mostrar que nem só de coisas boas agente pode viver, e que muitas vezes o caminho que percorremos é espinhoso. O que não podemos é desanimar e nem perder tempo reclamando. É importante manter sempre a auto-estima elevada, e acreditar sempre na força de Deus.
Quero que saibam que, o que relato nesse texto foi sentido por mim dia-a-dia, minuto a minuto, foram momento terríveis, mas que contribuíram para que me tornasse o homem feliz que hoje eu sou.
Abraços e até a próxima edição.
ru tb recebi ajuda de amigos e familiares e tive muitas provas de que Deus estava comigo e graças a Deus estou aqui hj curada. Deus esteja contigo
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